quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Tres vezes America


A branca


Não tenho notícia de outro país que tenha recebido tantos e tão diferentes imigrantes do que os Estados Unidos. Gentes do mundo inteiro, de todas as raças, para lá foram tentar a vida, a maioria oriunda de regiões extremamente pobres. Diferentemente de países como Brasil e Argentina, cujos colonizadores só queriam explorar as imensas riquezas, e não estavam nem aí para o desenvolvimento da colônia, ao contrário, até a impediam de se desenvolver, a Inglaterra tratava aquele pedaço de América como seu próprio futuro. Tanto que a chamou Nova Inglaterra. E o território era tão grande que outras potências também se atraíram por projetos de colonização, particularmente a Espanha, que já tinha toda a imensidão americana ao sul, e a França, que tinha algumas bases no Caribe. Os ingleses não tinham grande simpatia por colonos latinos, pois isso quebrava o padrão WASP que eles orgulhosamente impunham à colônia, ou seja, uma população formada basicamente por "brancos, anglo-saxões e protestantes". Os franceses logo desistiram, em função de seus projetos na África. O Reino Unido, cuja matriz é a Inglaterra, acabou fornecendo quase todo o caldo cultural e religioso, além de farta mão de obra para a construção do país. A partir de 1840, o padrão WASP foi completamente quebrado, com a imigração de milhões de católicos. Estima-se que 5 milhões de pessoas, 60% da população da Irlanda emigrou para a América, durante o século XIX, devido às péssimas condições de vida na Irlanda. Some-se a isso 3 milhões de italianos e 2 milhões de poloneses, todos católicos. Como sabemos, duzentos anos atrás, grande parte da população européia passava fome, inclusive gente que hoje se orgulha de seus tão bem desenvolvidos países e origens étnicas, como alemães, italianos, poloneses, etc. Grande parte daquela gente sofrida foi que construiu a grande América branca, cujos descendentes devem representar algo como um terço da nação de hoje.

A negra 

Quando dizemos que um terço do país é branco, significa que outros dois terços não o são. Assim, à primeira vista, esta informação assusta um pouco, pois estamos acostumados a enxergar os EUA como uma nação branca. Não faz mais que cinquenta anos que sua parte não branca começou a sair dos guetos. Nos anos 1960, pensar num presidente americano negro era blasfêmia. No entanto, está lá o "nosso primo" Obama, embora sua política siga os mesmos rumos dos Eisenhower, Roosewelt, Kennedy, Reagan e tantos outros de sobrenomes brancos. A partir das conquistas dos direitos civis, dos regimes de cotas para negros e da enorme capacidade negra de se auto estimar, conforme demonstraram nesses últimos 50 anos, eles somam 40 milhões da população americana, com mercado consumidor, moda e atitudes próprias, independentes dos brancos. Ainda se consideram, e de fato são, a segunda força racial na América, em termos culturais e econômicos. Mas, seus dias estão contados. Eles e os brancos padecem de um grave problema, que os países ricos europeus também possuem. A população está diminuindo. Os casais quase não geram filhos. Esse detalhe fundamental na geo política racial dos Estados Unidos traz uma revelação surpreendente: O futuro é dos hispânicos.

A hispânica 

Os hispânicos são a terceira força racial dos Estados Unidos. Nesse bloco estão compreendidos todos os ameríndios e latinos que vieram dos sub-países ao sul, no grande continente que começa no México e vai até a Patagônia. Todos falam espanhol, exceto uma pequeníssima parte do caribe e o Brasil, que acaba entrando no rolo dos hispânicos, por latinos que somos e, afinal, o português não é tão diferente do espanhol. Aqui nos Estados Unidos, eu acho que podemos nos considerar parte da grande mistura que chega do sul, pronta para o que der e vier, enfrentando as madrugadas geladas para entregar jornais ou cuidar das hortas e vacas, trabalhamos nas casas de famílias abastadas, limpamos a sujeira da sociedade branca, enfrentamos o trabalho escravo e a polícia de imigração. Toda a repressão exercida sobre os imigrantes ilegais cai por terra quando a sociedade norte americana requisita nossa mão de obra barata. Muito em breve, o espanhol estará sendo falado nas Cortes e, quiçá, nos parlamentos. Não está escrito na constituição que o Inglês seja a língua oficial do país. Eles não possuem língua oficial, de modo que qualquer uma serve, desde que falada de forma universal. O espanhol já é a segunda língua mais importante do mundo e isso não tem nada a ver com a Espanha. Tem a ver com um terço do país mais importante do planeta, somados os imigrantes hispânicos e a população dos territórios tomados ao México. Com nossa imensa capacidade de gerar filhos e expandir nossa cultura, dentro de mais 50 anos teremos uma nação hispânica ao norte do Rio Grande, na fronteira mexicana.

O caldeirão 
Na verdade, um país com a diversidade dos Estados Unidos, está destinado a tornar-se um caldeirão cultural e genético. Diferentemente do que se espera da futura China, uma potência totalitária e racialmente unificada, a América do Norte é a esperança de dias melhores e mais democráticos. A juventude norte americana não cansa na tarefa de torná-la possível, por mais que o sistema de poder tente impedi-la de sua sagrada missão. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário