Até hoje, Belém mostra com orgulho sua herança do ciclo da
borracha. Um exemplo são os galpões da
antiga Companhia Porto do Pará, nas docas da cidade, hoje transformados em
centro cultural e turístico de alta qualidade.
Mesmo que os caboclos que moram nas ilhas não compreendam uma só palavra
escrita, nem saibam sua localização no mundo e sequer saibam o que existe do
outro lado das imensas águas, Belém do Pará é o marco civilizatório do norte do
Brasil, seja para o bem, seja para o mal. E quem os haverá de separar?
A Estação das Docas, conforme foi chamada
na licitação inicial em 1897, possuia 1870 metros de cais em 13 armazéns de
estrutura metálica. Só ficou pronta em 1914, para você ver que já naquela época
as obras públicas eram enroladas ao máximo, com propósitos que certamente não
eram o do menor custo. Qualquer semelhança com a atual duplicação da BR101-Sul
não é mera coincidência! Mesmo ao longo
do tempo de construção, a área foi utilizada para exportação da borracha,
gerando fabulosos lucros para os negociantes e para o país. Infelizmente,
quando ficou completamente pronto o Porto, já se acabara o boom econômico da borracha e a primeira guerra mundial batia às
portas européias, atrapalhando os negócios. Então, o porto entrou em
decadência, como tudo o mais. Fiquei imaginando por onde eles estariam
exportando a quantidade absurda de alumínio que produzem atualmente no interior
do estado. No dia seguinte, descobri que eles construíram um novo porto, no
ponto da baía de Marajó onde deságua o Rio Tocantins. Assim, o transporte fica
facilitado e o lucro é maior, devidamente embolsado pelos empreendedores
estrangeiros, enquanto a infra estrutura e a energia elétrica é totalmente caipora.
Me fez lembrar da piada do brasileiro
bonzinho.
Quatro ou cinco dos antigos armazéns das
Docas, no centro da cidade, foram
transformados em áreas de lazer. A maioria dos estabelecimentos apresenta
atendimento de padrão internacional, vendendo objetos de arte e servindo os
pratos da culinária local, basicamente uma mistura de componentes indígenas e
africanos. Sobrou pouca influência da culinária portuguesa. Na verdade, em toda
a cidade não vi nenhum restaurante de comida portuguesa, que adoro, mas uma
grande profusão de pizzarias, que detesto. Tirando os peixes, eu não achei graça
nenhuma nas comidas típicas! Deve ser a
falta de costume. Mas, o ambiente das
Docas é de primeira linha e a segurança é total. Os carros, inclusive os taxis,
estacionam no páteo interno, com cercas
gradeadas de dois metros de altura e guarnecidas permanentemente por vigilância
da polícia militar. Dentro dos armazéns o ar condicionado te faz imaginar num
cenário novaiorquino e a arquitetura super moderna te leva para um clima
futurista.
A marca registrada em Belém, além das famosas
mangas plantadas nas ruas, são as sorveterias. Aqui nas Docas há somente uma,
mas, que sorveteria!!! Nos balcões de
vidro, imensos e transparentes, formando um redondo
no meio do qual estão as atendentes, você pode observar os sorvetes que te
esperam. Dezenas de sabores tradicionais, como uva, creme de caramelo,
maracujá, limão, etc. E mais alguns
completamente desconhecidos do visitante alienígena, como eu: açaí, bacaba, cupuaçu, bacuri, tucumã, muruci, piquiá, taperebá, e por aí vai... Provei o de cupuaçu, de bacuri e de bacaba. Quando provei este
último, chamei-o de babaca e as
atendentes do balcão caíram na gargalhada. Como sorriem esses paraenses! Tal
qual crianças, em tudo eles acham graça. E como são simpáticos! Ali mesmo, nas Docas, uma moça se aproximou e
puxou conversa comigo, enquanto assistíamos um espetáculo folclórico de dança e
músicas indígenas. Conversa vai, conversa vem, ela disse que eu era muito bonito e convidou-me para irmos ao MEU hotel. Declinei gentilmente do convite, por que tenho
medo de estranhos e também devido a seu evidente mal gosto estético. Infelizmente, fiquei sem saber o que ela
queria comigo e meu hotel.
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