"Eu vou, Você fica.
Dois outonos".
Dois outonos".
(Bashô,
por volta de 1660)
Já viu algo mais
denso para descrever a separação de dois amantes? A milenar técnica japonesa do
Hai-Kai é assim. Condensa uma emoção ou uma experiência em três versos curtos. Paulo
Leminski fazia hai-kais por que era lutador de Judô, faixa preta do nível mais
alto, admirador da cultura nipônica, embora tivesse ascendência polaca. Domingos
Pellegrini Junior também fazia hai-kais, por que cresceu no meio dos japoneses,
colhendo café no norte do Paraná, embora tivesse ascendência italiana. Na juventude foi típico militante do
Partido Comunista, acreditava piamente na vanguarda revolucionária que o comitê
central representava, ortodoxo e
disciplinado. Adorava as histórias de Luis Carlos Prestes e sua eterna crença
no socialismo. Dava sempre as mesmas palestras e limitava-se a um cálice de
vinho de vez em quando. Fazia publicidade para ganhar a vida.
Propaganda também era
o ganha pão de Paulo Leminski, anárquico maluco beleza admirador de Trotski e
tradutor do cavaleiro andante japones Bashô. Corre uma lenda de como entrou na
publicidade: procurou um amigo dono de agência e desabafou que não agüentava
mais dar aulas em cursinho, ser perseguido pelas direções por que fumava
maconha escondido com os piás, ou por que todos os pais pensavam que ele
transava com todas as alunas. Então, queria uma oportunidade no mundo da
propaganda. O empresário lhe explicava que não era bem assim, tinha que ter um
preparo, entender das diversas mídias e conhecer comunicação social. "Eu
sou bom em frases", dizia o poeta, "deixa eu criar as frases dos
anúncios". Talvez para se livrar do amigo chato, o publicitário propôs um
teste, "Você tem meia hora para criar uma boa frase no anúncio da
imobiliária XYZ para a edição do jornal de domingo". Dali a 15 minutos,
Leminski jogou sobre a mesa do chefe a frase "A Imobiliária XYZ acha fácil o
imóvel que você acha difícil". Foi contratado imediatamente.
Iniciava o expediente
depois das duas da tarde e às dez da noite abria a primeira garrafa de vodka,
quando revisava os textos literários da madrugada anterior. Lá pelas duas da
manhã saia para a rua, quase sempre a Riachuelo, "das putas", onde encerrava os trabalhos pouco
antes do amanhecer, n'alguma mesa onde pudesse escrever o que revisaria na noite
seguinte. Quase sempre já teria detonado sua segunda garrafa, entre outros
estimulantes mais pesados. Era "o bandido que sabia latim", na
alcunha de Toninho Vaz, seu biógrafo e amigo, que nos conta o seguinte causo:
O evento se deu em
Florianópolis, em debate literário na Universidade Federal de Santa
Catarina. Da tribuna, Pellegrini, escritor laureado com vários prêmios, iniciou
seu discurso e notou que Leminski dormia em sua poltrona no auditório.
Espertamente mudou todo o roteiro e falou assunto completamente diferente do
que esperaria o adversário, que foi acordado pelas palmas que se ouviu quando o
discurso terminou. Acostumado ao ritual entre os dois, Leminski se levanta depois
das palmas e inicia caótico pronunciamento, em ataque ao que pensava ter dito o
orador. Não adiantava sua mulher, Alice
Ruiz, puxá-lo pelo paletó, para que sentasse na poltrona, enquanto lhe dizia "seu
maluco, ele não falou nada disso". Paulo
já devia ter iniciado sua segunda garrafa de vodka e só tinha sentidos para o
ataque vociferado ao inimigo, até que finalmente percebeu a platéia às
gargalhadas do seu papel de bobo. Não
teve outro jeito, a não ser desculpar-se e sair de fininho.
Bem menos sintético, estou sentindo.
ResponderExcluirAmor na Dor
Doação de amor,
Com muito ardor,
Elimina a dor.
Hans
Bem menos sintético, estou sentindo.
ResponderExcluirAmor na Dor
Doação de amor,
Com muito ardor,
Elimina a dor.
Hans