A partir dos anos 1700, principalmente na Inglaterra, o mundo viu nascer
grandes invenções que revolucionaram a produtividade humana. A máquina de tear,
para a fabricação de tecidos, a metalurgia, para transformação da natureza
bruta em ferramentas amistosas ao ser humano e, finalmente, a mais importane
delas, a máquina movida a vapor. Deste conjunto de novos conhecimentos e
recursos, tivemos o desenvolvimento extraordinário do transporte marítimo e de
uma nova modalidade, a ferrovia. Para variar, o Brasil só foi tocar neste
assunto cem anos depois, com a independência. A primeira ferrovia, para valer,
só chegou em 1854, ligando a zona rural
próxima da base da Serra de Petrópolis à parte de trás da Baia da Guanabara,
afim de escoar a produção agrícola, através da primeira conexão intermodal do
país: carros de boi na área da produção, o trem e o navio. Navios já eram
produzidos desde uma década antes pelo mega empresário Barão de Mauá. Amigo do
rei, Mauá era um grande estrategista e, como ministro, passou a incentivar
fortemente a construção de ferrovias. O segundo grande sonho foi ligar o porto
de Cabo, no litoral pernambucano, ao Rio São Francisco, livrando-se do trecho
das corredeiras de Xingó. A ligação
ferroviária entre as duas principais cidades do País, Rio e São Paulo, seria
inaugurada em 1867 e, até a virada dos anos 1900, o país veria a inauguração de
treze novas estradas de ferro, inclusive a Central do Brasil, com estação no
centro do Rio de Janeiro que a liga à Serra do Mar, passando por túneis de mais
de dois quilômetros e viadutos localizados a mais de 400 m de altura. Para esta, Caetano Veloso faria uma canção
que está entre suas obras primas: Trem das Cores.
Curitiba tem uma estrada parecida, a Graciosa.
Devido a seu islamento do litoral de seu estado, a capital paranaense teve seu
desenvolvimento muito atrasado, pois também não contava com estradas por terra
para lado nenhum. A solução foi ligá-la ao Porto e Paranaguá, por uma estrada
de ferro que desce mil metros de penhascos e montanhas, ora mergulhando nos
enormes túneis, ora alçando vôo nas pontes penduradas entre rochedos. Uma bela
estrada construída nos anos 1880, homenageada numa bela canção da banda roqueira Blindagem.
Quando o mundo deu a volta dos 1900, a Europa e Estados Unidos já havia
construído seus sistemas ferroviários e adentravam às escavações do sub solo em
suas capitais, para espalhar os eficientes trens urbanos por debaixo da terra,
os metrôs. Em 1918, o governo inglês ofereceria a tecnologia, o projeto e a gestão da
obra de uma linha de metrô, sem custo
algum a não ser a mão de obra operária. As duas cidades
escolhidas: Rio de Janeiro e Buenos Aires. Não se sabe bem por que, mas o Rio de
Janeiro recusou o presente. Ofendidos, os ingleses forneceram as duas linhas de
metrô para a cidade de Buenos Aires, que as aceitou de bom grado. Hoje você pode sair do bairro de Gardel, El Abasto, ou do cemitério onde ele está enterrado, Chacaritas, e em 15 minutos está descendo numa estação do centro de Buenos Aires. Os velhos vagões ingleses estão rodando por lá até hoje, assim como muitos dos
trens da própria Londres de cem anos atrás, alguns revestidos em lindos jatobás
amazônicos que os ingleses levaram quando construíram o Porto de Manaus.
Rejeitamos o presente dos ingleses, mas, mesmo assim, aos trancos e barrancos, misturando variadas bitolas e sem qualquer planejamento central, o trem foi se impondo ao Brasil, mais por oportunidade de negócios para grandes empreendedores individuais, que não se falavam entre si. Além da produção, transportava principalmente gente. Em 1950 o compositor João do Vale chegava no Rio de Janeiro, aos 17 anos de idade. Tres anos antes, fugira de São Luiz do Maranhão, cruzando metade do país de trem. Deixou um testemunho inigualável de como eram as viagens, aqui interpretado por Luiz Gonzaga:
Rejeitamos o presente dos ingleses, mas, mesmo assim, aos trancos e barrancos, misturando variadas bitolas e sem qualquer planejamento central, o trem foi se impondo ao Brasil, mais por oportunidade de negócios para grandes empreendedores individuais, que não se falavam entre si. Além da produção, transportava principalmente gente. Em 1950 o compositor João do Vale chegava no Rio de Janeiro, aos 17 anos de idade. Tres anos antes, fugira de São Luiz do Maranhão, cruzando metade do país de trem. Deixou um testemunho inigualável de como eram as viagens, aqui interpretado por Luiz Gonzaga:
Houve um famoso trem que povoou o imaginário de liberdade da nossa
juventude aos longo dos anos de chumbo da ditadura militar. Saindo de Bauru, atravessava o interior
de São Paulo e Mato Grosso, até a
fronteira de Corumbá, de onde seguia em linha boliviana para Santa Cruz de la
Sierra. O trecho principal e mais bonito era a travessia do Pantanal. Muitos dirão que a música é uma guarânia paraguaia. Até podia ser, mas não é. Saiu das violas e harpas dos
pantaneiros Paulo Simões e Almir Sater.
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