domingo, 5 de fevereiro de 2012

Política cultural, abstinência fiscal



Todos os estados mais a União federal possuem programas de incentivo à cultura, onde um grupo de amigos do rei se reúnem para analisar os projetos que buscam patrocínio oficial e escolhem aqueles que vão ser agraciados. A maioria destes é tudo gente chapa branca, entidades e organizações dóceis e compreensíveis da necessidade de exercitar o supremo ideal franciscano, "É dando que se recebe", que a política nacional converteu em lei máxima nesses tempos modernos das relações sociais incestuosas, porém ocultas na contabilidade oficial.  Está tudo bem, dizem os auditores.  " Não está, não! " , digo eu.   Há muita coisa podre no reino da Dinamarca, pra ficar no paradigma do ser ou não ser, eis a questão.

Também existem leis de incentivos fiscais, onde as empresas que patrocinam projetos culturais podem descontar de seus impostos a pagar,  uma parte ou mesmo o total do que investem em "cultura", desde que devidamente autorizadas pelas entidades encarregadas de aprovar os projetos beneficiários. Uma verdadeira indústria de confecção de projetos e de facilitadores de tramitação formou-se no Brasil, aperfeiçoando os métodos lobistas. Mega empresas estão altamente interessadas nesse mercado, unindo o útil (isenção de impostos) ao agradável (marketing do bem, qualificado  e popular). No aniversário de Floripa, como sempre, houve um grande evento no qual o maestro Luis Carlos Martins e a bateria da escola de samba Vai-Vai, ganhadora do carnaval de São Paulo, se juntaram a uma orquestra sinfônica, também de São Paulo, apresentando um espetáculo gratuíto ao público cidadão-contribuinte-eleitor de Floripa, no local onde tradicionalmente a prefeitura organiza o reveillon.   Gratuíto pra ti, ô cidadão desassistido, por que o erário público é que pagou a festa!  A empresa Angeloni se beneficiou com seu nome no topo de todos os outdoors espalhados pela cidade, e provavelmente não gastou um centavo,  nem com a água para matar a sede dos operários que montaram o palco. 

No último verão, o grupo RBS de comunicação (retransmissor da Rede Globo) usou e abusou dessa, digamos, facilidade da Lei, e nos brindou com várias festas na praia, todas de gosto duvidoso, um festival de frivolidades para distrair jovens turistas ricos e ignorantes. Tais eventos nada acrescentaram à cultura do rock-and-roll mundial, muito menos à cultura local ou mesmo nacional. Chegou a trazer o mega-star Ben Harper, dos EUA, desta vez com o auxilio luxuoso da cerveja Skol, a que desce redondo mas fatura ao quadrado. Investimento privado, zero.   Só patrocínio oficial e abstinência fiscal. 


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