Todos os
estados mais a União federal possuem programas de incentivo à cultura, onde um
grupo de amigos do rei se reúnem para analisar os projetos que buscam
patrocínio oficial e escolhem aqueles que vão ser agraciados. A maioria destes
é tudo gente chapa branca, entidades e organizações dóceis e compreensíveis da
necessidade de exercitar o supremo ideal franciscano, "É dando que se
recebe", que a política nacional converteu em lei máxima nesses
tempos modernos das relações sociais incestuosas, porém ocultas na contabilidade
oficial. Está tudo bem, dizem os auditores. " Não está, não! "
, digo eu. Há muita coisa podre no reino da Dinamarca, pra ficar no
paradigma do ser ou não ser, eis a
questão.
Também
existem leis de incentivos fiscais, onde as empresas que patrocinam projetos
culturais podem descontar de seus impostos a pagar, uma parte ou mesmo o
total do que investem em "cultura", desde que devidamente autorizadas
pelas entidades encarregadas de aprovar os projetos
beneficiários. Uma verdadeira indústria de confecção de projetos e de
facilitadores de tramitação formou-se no Brasil, aperfeiçoando os métodos
lobistas. Mega empresas estão altamente interessadas nesse mercado, unindo o
útil (isenção de impostos) ao agradável (marketing do bem, qualificado e
popular). No aniversário de Floripa, como sempre, houve um grande evento no
qual o maestro Luis Carlos Martins e a bateria da escola de samba Vai-Vai,
ganhadora do carnaval de São Paulo, se juntaram a uma orquestra sinfônica,
também de São Paulo, apresentando um espetáculo gratuíto ao público
cidadão-contribuinte-eleitor de Floripa, no local onde tradicionalmente a
prefeitura organiza o reveillon. Gratuíto pra ti, ô cidadão desassistido, por
que o erário público é que pagou a festa! A empresa Angeloni se beneficiou
com seu nome no topo de todos os outdoors espalhados pela cidade, e provavelmente
não gastou um centavo, nem com a água
para matar a sede dos operários que montaram o palco.
No último
verão, o grupo RBS de comunicação (retransmissor da Rede Globo) usou e abusou
dessa, digamos, facilidade da Lei, e nos brindou com várias festas na praia,
todas de gosto duvidoso, um festival de frivolidades para distrair jovens
turistas ricos e ignorantes. Tais eventos nada acrescentaram à cultura do
rock-and-roll mundial, muito menos à cultura local ou mesmo nacional. Chegou a
trazer o mega-star Ben Harper, dos EUA, desta vez com o auxilio luxuoso da
cerveja Skol, a que desce redondo mas fatura ao quadrado. Investimento privado,
zero. Só patrocínio oficial e abstinência fiscal.
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