domingo, 5 de fevereiro de 2012

Peguei minha arma e desapareci no meio das montanhas...




Barcelona é uma das mais alegres cidades do mundo.
Totalmente segura e culta, uma delícia para os sentidos e a alma.
A rua central é chamada de Ramblas e liga o Monumento de Colombo, à beira mar,  à Praça Espanha. 


Eu estava num trem que me levaria de Barcelona à fronteira francesa. Estava fascinado por ter descoberto tantas histórias da Guerra Civil espanhola, onde a Catalúnia havia majoritariamente formado ao lado da Frente Popular, contra o exército conservador e fascista de Franco, que acabou vencendo a guerra. Por isso mesmo, a Catalúnia sofreu cruel repressão durante os anos da ditadura que se instalou em 1939 e só foi desarticulada com a reimplantação da monarquia, quarenta anos depois, sob condições que alguns ainda consideram humilhantes. A Frente Popular era formada pelo governo democrático então eleito, apoiado por comunistas, anarquistas e militantes de esquerda do mundo inteiro, prenunciando o combate ao fantasma do regime nazista de Hitler, que já havia dominado a Alemanha e apoiava as forças de Franco. Num dado momento, com  a derrota iminente, hordas de militantes estrangeiros abandonam a Catalúnia, pela fronteira francesa, fugindo do inevitável massacre, inclusive um casal de anarquistas judeus ingleses, que preferiram permanecer na França, vindo a integrar a organização clandestina que fazia resistência à invasão nazista em 1940. Fizeram uma canção que se tornou épico da resistência anti-nazista:


Quando eles atravessaram em massa a fronteira
Orientaram-nos para que nos rendêssemos às autoridades francesas
Isso eu não poderia fazer.
Peguei minha arma e desapareci no meio das montanhas...
....

Havia três de nós esta manhã,
sou o único esta tarde
mas eu preciso ir em frente;
a fronteira é minha prisão...

Ah, o vento, o vento está soprando
através dos túmulos ele está soprando,
a liberdade breve virá;
então nós reapareceremos  das sombras.



Esta canção foi redescoberta pelo judeu canadense Leonard Cohen, em suas andanças e apresentações pela Europa.


Hoje, a maioria da população espanhola, a exemplo de seus arqui adversários ingleses, estão é muito satisfeitos com as fofocas da família real, sobre quem a princesa tal está namorando, como foi o dia do príncipe de Astúrias, o sucessor no trono, etc.  Não era o caso das adolescentes que estavam comigo na cabine daquele trem, voltando de seus colégios na capital para as comunidades rurais onde moravam. Eu as observava de todos os pontos de vista, com o devido recato de estrangeiro, apreciando sua beleza monumental, ampliada pelos piercings de anéis colados a seus umbigos deliciosamente à mostra. Percebi também que falavam entusiasmadamente sobre o que fariam no final de semana.  Quando se aquietaram, por um instante,  eu fiz um comentário atrevido: "É uma surpresa para mim que vocês conversem no idioma espanhol". Ao princípio, ficaram atônitas, até que uma delas  respondeu: "Señor, entre nosotras hablamos el castellano". Ali, deixava claro sua diferença com  a Espanha. O idioma espanhol moderno foi adotado como oficial durante a formação da nação espanhola, antes do ano 1500, no esforço de guerra para expulsão dos mouros. Mais de cinco séculos depois, os Catalães ainda o consideram apenas um dialeto de Castilha. 

No entanto, o espanhol se espalhou pelo mundo e hoje é considerado o segundo idioma mais importante, depois do inglês. 



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