Tudo que vem do Paraguai
hoje é apresentado como produto de segunda linha, contrabando ou pirataria.
Mas, nem sempre foi assim. Antes da grande guerra contra as forças conjuntas de Brasil, Argentina e Uruguai, o Paraguai era modelo de progresso na América do
Sul. Por volta de 1860, sua classe
dirigente tivera um século de sossego para preparar o país depois da expulsão dos Jesuítas; e pretendiam transformá-lo numa sub-potência industrial na
América do Sul. Isso preocupou sobremaneira o imperialismo britânico, então dominante, a ponto
deles convocarem seus governos subalternos no Brasil e Argentina, para executarem um golpe de estado no
Uruguai, fechando as portas para as exportações paraguaias. O
porto de Montevideo era a única forma do Paraguai transportar seu excedente
agrícola e a desejada produção industrial, através dos rios Paraguay e Paraná,
desembocando no estuário do Rio de La Plata, por onde as mercadorias ganhavam o
Atlântico. Foi um duro golpe, mas, pior que isso, a guerra desencadeada pela
impaciência paraguaia foi uma desgraça para o país. Dos 370 mil mortos em cinco
anos de combates, 300 mil eram paraguaios. Por muito tempo o país ficou
prostrado, sem força de trabalho e sem auto-estima, dominado por lacaios locais
do reino do Brasil.
Muito tempo depois da
derrocada, a primeira guerra mundial deu um alívio e o país voltou a ensaiar
algum progresso. Naquele curto período
de crescimento, entre 1915 e 1930, aconteceu um momento histórico único,
comparável ao evento do nascimento da "bossa nova" no Brasil. Foi o movimento artístico e intelectual que
gerou um novo ritmo para representar a alma guarani, em substituição à Polca.
Eram os novos tempos da Guarânia, ritmo moderno para substituir o ancestral
guarani em favor da poesia castelhana. A Guarânia foi inventada para que os intelectuais paraguaios
pudessem enfrentar a tentativa da RCA argentina de se apropriar da
polca paraguaia, nomeando a música que se fazia em Corrientes com o novo nome
de Chamamé. Foi uma goleada de dez a
zero em favor da nova Guarânia, que tomou o mundo de assalto, inclusive as
terras brasileiras.
A dupla sertaneja Cascatinha e Inhana
especializou-se em Guarânias e sua gravação compacto-simples da música
"India" vendeu 300 mil cópias em um ano. Uma marca impressionante
para a época, mais de 60 anos atrás. Infelizmente, a qualidade literária da versão
é um espanto de mal gosto. A canção, que originalmente homenageia a mulher
guarani, tratando-a como uma deusa das matas de Guaira, na versão
brasileira entra em detalhes não só vulgares como questionáveis, exibindo
intimidades inexistentes, como no trecho "fica
nos meus braços só mais um instante, deixa os meus lábios se unirem aos
seus". Ridículo! Abaixo, se pode ver a versão original da canção.
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