Quando Guga venceu pela última vez o torneio Roland Garros, eu
estava de férias na Espanha e assistia as partidas nos balcões das tabernas e
botecos. Quanto mais corriam os dias, mais um adversário vencido, até que
chegou a grande final, contra um espanhol. Eu me sentia orgulhoso quando,
de forma anônima, ouvia os espanhóis comentando "Mas este guri é um
monstro. De onde veio?", perguntava um. O outro respondia "Dizem que
é brasileiro, mas, com esse nome, deve ser alemão". Eles não têm a menor
ideia de que nosso país é essa federação de cores e culturas.
Eu disse
para minha companheira de viagem "Vamos a Paris, ver a partida final". E ela
respondia que não, que já se tinha programado para as touradas de Granada e a
visita à Allambra, que tinham datas pré-marcadas. "O que é um monumento
muçulmano e uma matança de touros, diante da glória de um patrício no principal
torneio de tenis do mundo?". Mas, ela ficou irredutível e, como sempre, a
última palavra foi minha: "Sim, querida". Então, no dia da decisão, nossa
programação previa uma visita a Aranjuez.
A Espanha
é um centro artístico por excelência, tanto plásticas quanto musicais. O "Concierto de
Aranjuez" ocupa um lugar de destaque na coleção dos admiradores da música ibérica. Seu autor é Joaquim Rodrigo, compositor e músico já famoso quando
foi morar em Paris fugindo da guerra civil. Lá, tomou conhecimento do bombardeio
aéreo sobre a pequena comunidade de Guernica, situada em meio às montanhas do
país basco. Diante do absurdo, e perplexo, o grande compositor começou a
vislumbrar os acordes tristes da canção, que levou dois anos para
terminar. O mundo inteiro se escandalizou com o ato sanguinário nazista, que
serviu a Hitler como teste de suas armas preparadas para a guerra que se
anunciava, tanto quanto ao General Franco, beneficiário da extrema violência
cometida contra uma cidade pacata e inocente, ato que foi utilizado para demonstrar a seus
adversários até onde suas forças poderiam chegar. Uma das obras mais conhecidas
de Pablo Picasso é justamente a pintura que fez, inspirado naquela tragédia.
Consta que quando foi preso em Paris, para onde também fugiu e nunca mais
voltou para a Espanha, os interrogadores nazistas lhe perguntaram, apontando uma foto do quadro
já famoso: "Foi você que fez isto?". Picasso teria respondido,
"Não, eu apenas pintei, quem fez foram vocês."
O concerto se
estende por três partes bem delimitadas,
Allegro con spirito,
Adagio e
Allegro gentile,
sendo que a segunda parte, a mais melodiosa, transformou-se num best seller internacional, desde que foi gravada isoladamente como canção popular nos anos sessenta e obteve grande sucesso de público, o que normalmente peças eruditas não atingem.
Em seguida, centenas de intérpretes a fizeram correr o mundo.
Aqui, Andrea Bocelli canta um trecho.
Allegro con spirito,
Adagio e
Allegro gentile,
sendo que a segunda parte, a mais melodiosa, transformou-se num best seller internacional, desde que foi gravada isoladamente como canção popular nos anos sessenta e obteve grande sucesso de público, o que normalmente peças eruditas não atingem.
Em seguida, centenas de intérpretes a fizeram correr o mundo.
Aqui, Andrea Bocelli canta um trecho.
Dentro de cada movimento em particular, a orquestra evolui por ondas assimétricas, ora suaves como as águas correndo pelas drenagens naturais retiradas do Rio Tejo para abastecer os jardins, ora estremecendo cordas e sopros, na suposição de um súbito baque de nova bomba incendiária. A estréia deu-se em 1940 no
Palácio da Música Catalã, em Barcelona, a única província capaz de impor ao
regime central de Madrid tamanha prova de autonomia e coragem, tendo em vista as
condições políticas vigentes e a representatividade da obra. Para compensar os
anos de penúria, Joaquim Rodrigo foi nomeado Marquês de Aranjuez pelo Rei Juan
Carlos II. O compositor tinha então 90
anos de idade. Viveu até os 98, tendo, portanto, usufruído 8 anos de nobreza. Não sei se aproveitou muito.
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