Há vários tipos de turistas
estrangeiros que nos visitam. Existem os que gostam de conforto, preferindo
hotéis cinco estrelas na frente da Praia de Copacabana, não se importando de
conviver perigosamente com os riscos de
uma metrópole cada vez mais violenta. Outros, preferem entrar pelas selvas
adentro, buscando o inusitado e o
selvagem, atraídos pelas belezas naturais e um tipo diferente de perigo, aquele
existente da natureza e seus seres reais ou imaginários. Para esse grupo, a Amazônia
evidentemente é o paraíso. Um terceiro tipo é o aventureiro, normalmente jovem
e com pouco dinheiro, viajando de ônibus atrás de belas paisagens e costumes
diferentes. Esta rapaziada não se ofende com a miséria do povo ou a falta de
higiene e você os encontra nos mais diferentes lugares, admirando as
Cataratas do Iguassu, cruzando o
Pantanal, subindo as montanhas de pedras das chapadas do planalto central, e,
principalmente, caprichando no bronze das nossas praias tropicais, quanto mais
longe e isoladas, melhor. Eu não sei onde é que ficam sabendo da existência de
lugares como Jericoacoara ou Lençõis Maranhenses, onde encontrei vários deles
há poucos meses, quando por lá andei. Em São Luiz, encontrei um rapaz de
Barcelona querendo saber detalhes dos Lençõis e, para minha surpresa, ele sabia
mais coisas do que eu ou os demais brasileiros do Maranhão. Pedi para ler o
guia impresso que ele trazia e vi os textos escritos em Catalão, contando
coisas inexistentes nos guias brasileiros, como a localização de um restaurante
numa praia isolada, o cardápio, o nome do proprietário e até o detalhe de que
havia galinhas no terreiro. Ele se encaminhou para a primeira agência de
turismo que o porteiro do hotel lhe arranjou e não ouviu meus conselhos de que
era necessário pesquisar mais opções. Outra turista, esta holandeza, tinha um
perfil diferente, a começar pela profissão. Era funcionária da ONU, falava
várias línguas e já tinha estado em todos os países perigosos do mundo. Tinha
uma idade avançada em em relação ao grupo. Fiquei surpreendido de vê-la em
Barreirinhas, sozinha, entrando num passeio de barco pelo Rio Preguiças abaixo.
Naquele passeio ela teve uma lição sobre o jeitinho brasileiro, embora eu creia
que não a tenha aprendido. Aliás, acho que ela até hoje não entendeu nada.
Entramos doze pessoas no barco,
entre moças e rapazes, todos de perfil jovem aventureiro, menos eu e a
holandeza. Assim que zarpamos, o piloto começou a contar das belezas que
existiam um pouco abaixo do lugar até onde iria oficialmente o passeio. Ditas
as maravilhas, todos se interessaram em conhecê-las, ao que o piloto
malandramente explicou que poderia ir, porém, como não estava na programação,
ele cobraria quinze reais a mais de cada um, desde que todos concordassem.
Apenas duas pessoas não disseram sim,
eu e a holandeza. Mas, também não dissemos não.
Quando voltávamos, no final do dia, o piloto começou a cobrar o passeio extra,
que, afinal, havia sido um fracasso, não foi nada daquilo que ele tão
habilmente havia descrito. Mas, trato é trato, e todos começaram a sacar a
grana do bolso. Quando chegou na holandeza ela, sem entender patavina,
questionou "Why"? O piloto
pediu socorro e várias pessoas tentaram inutilmente explicar-lhe em inglês o
motivo daquela cobrança. Ela só balançava a cabeça: "I do not understand. Why?".
Eu havia percebido na hora do
embarque que a holandeza falava em espanhol com alguém, então, saquei meu
portunhol e tentei lhe contar o que estava se passando. Ela mostrava o papel do
programa oficial do passeio, dizendo simplesmente "pero, esto no está acá". Foi difícil convencer a mulher
de que no Brasil, nem sempre vale o que está escrito.
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