terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A eterna busca por um coração de ouro


Em 1966 aparecia em Los Angeles um caipira canadense com dupla personalidade. Numa delas atuava como excelente guitarrista na banda Buffalo Springfield, que fez pouco sucesso imediato e hoje é cultuada pelos amantes do autêntico rock and roll, fans que disputam como preciosidades seus discos originais, até por que metade da banda já morreu, uns por overdose, outros por morte morrida mesmo. Encarnando também o papel de cantor country, o jovem Neil, então com 21 anos de idade, seguia pela trilha aberta por Bob Dylan, já consagrado ídolo do country politizado, que vivia do outro lado do país, em Nova Yorque. Nosso mané canadense, por seu lado,  com sua cara grande e cabelos pretos escorridos que lembravam mais um índio siox, comia o pão que o diabo amassou na costa da Califórnia, vivendo de pequenos shows em bares e festivais hippies, que, como sabemos, tinham muita maconha e pouco dinheiro. A voz anasalada de Neil era apropriada para o sotaque caipira do interior dos Estados Unidos,  e foi a que sobressaiu com mais nitidez frente ao público. Com o passar do tempo se transformava num grande astro do country.

Aprofundou sua personalidade multi funcional e entrou para uma banda que seria referência mundial de militância política e qualidade musical. Por mais de quarenta anos "Crosby, Stills, Nash & Young" tem sido o grupo de maior credibilidade na música country norte americana. Eles só se encontram por uma boa causa, como a luta pacifista ou pelo fim da discriminação contra minorias. Neil Young também fez enorme sucesso em sua carreira solo,  sempre se apresentando com a mesma gaitinha, ao estilo Dylan, e se acompanhando por um violão bem tocado.  Há um vídeo gravado em 1971, saído do fundo do baú, surpreendentemente com excelente qualidade, que mostra uma canção então recém feita por ele, a qual veio a ser o maior sucesso do hit parade country na primeira metade dos anos setenta, a canção "Coração de Ouro" (Heart of Gold), onde fala de sua procura incessante por uma pessoa especialmente boa e generosa, ou seja, um coração de ouro, confundindo-a propositalmente com a expressão "filão de ouro" (mesma grafia em inglês), objeto de cobiça dos mineradores pioneiros do velho oeste.




Encerrada sua experiência roqueira com o Buffalo Springfield, Young formou a banda Cavalo Louco (Crazy Horse). Na minha opinião é a melhor coisa que o rock nos legou neste século. Fazendo um rock que vai propositalmente do mais suave acorde até o mais insuportável som pesado, a banda era sua companhia preferida nas longas excursões pelo mundo. Dois muchachos mexicanos, acompanhados pela percussão comportada e pelo rigor de um competente baixo, ambos canadenses.  São cinco estrangeiros representando a excelência norte americana. 



Há alguns anos, Neil Young foi submetido a uma cirurgia para extrair um tumor alojado junto ao cérebro. Teve que baixar a bola, mas continua fazendo chover, como nesta empreitada ao cantar uma relíquia histórica do álbum "Sargent Pepper", dos Beatles, isso em plena Inglaterra. Precisa de muita coragem.




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