Em 1966 aparecia em Los
Angeles um caipira canadense com dupla personalidade. Numa delas atuava como
excelente guitarrista na banda Buffalo Springfield, que fez pouco sucesso
imediato e hoje é cultuada pelos amantes do autêntico rock and roll, fans que
disputam como preciosidades seus discos originais, até por que metade da banda
já morreu, uns por overdose, outros por morte morrida mesmo. Encarnando também o
papel de cantor country, o jovem Neil, então com 21 anos de idade, seguia pela
trilha aberta por Bob Dylan, já consagrado ídolo do country politizado, que
vivia do outro lado do país, em Nova Yorque. Nosso mané
canadense, por seu lado, com sua cara
grande e cabelos pretos escorridos que lembravam mais um índio siox, comia o
pão que o diabo amassou na costa da Califórnia, vivendo de pequenos shows em bares e festivais hippies, que, como sabemos, tinham muita maconha e pouco dinheiro. A voz anasalada de Neil era apropriada para o sotaque caipira do interior dos Estados Unidos, e foi a que
sobressaiu com mais nitidez frente ao público. Com o passar do tempo se
transformava num grande astro do country.
Aprofundou sua
personalidade multi funcional e entrou para uma banda que seria
referência mundial de militância política e qualidade musical. Por mais de quarenta
anos "Crosby, Stills, Nash & Young" tem sido o grupo de maior
credibilidade na música country norte americana. Eles só se encontram por uma
boa causa, como a luta pacifista ou pelo fim da discriminação contra minorias.
Neil Young também fez enorme sucesso em sua carreira solo, sempre se apresentando com a mesma gaitinha,
ao estilo Dylan, e se acompanhando por um violão bem tocado. Há um vídeo gravado em 1971, saído do fundo
do baú, surpreendentemente com excelente qualidade, que mostra uma canção então
recém feita por ele, a qual veio a ser o maior sucesso do hit parade country na
primeira metade dos anos setenta, a canção "Coração de Ouro" (Heart
of Gold), onde fala de sua procura incessante por uma pessoa especialmente boa
e generosa, ou seja, um coração de ouro, confundindo-a propositalmente com a
expressão "filão de ouro" (mesma grafia em inglês), objeto de cobiça
dos mineradores pioneiros do velho oeste.
Encerrada sua
experiência roqueira com o Buffalo Springfield, Young formou a banda Cavalo
Louco (Crazy Horse). Na minha opinião é a melhor coisa que o rock nos legou
neste século. Fazendo um rock que vai propositalmente do mais
suave acorde até o mais insuportável som pesado, a banda era sua companhia
preferida nas longas excursões pelo mundo. Dois muchachos mexicanos, acompanhados pela
percussão comportada e pelo rigor de um competente baixo, ambos canadenses. São cinco estrangeiros representando a
excelência norte americana.
Há alguns anos, Neil Young foi submetido a uma cirurgia para
extrair um tumor alojado junto ao cérebro. Teve que baixar a bola, mas continua fazendo chover, como
nesta empreitada ao cantar uma relíquia histórica do álbum "Sargent
Pepper", dos Beatles, isso em plena Inglaterra. Precisa de muita
coragem.
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