terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Véspera da destruição




Em agosto de 1970 um cantor norte americano chamado Kris Kristofferson iniciava sua apresentação no palco do Festival da Ilha de Wight, na Inglaterra. Ele não era qualquer um. Apenas um ano atrás, a canção que agora tentava apresentar havia sido consagrada por Janis Joplin, atingindo o  topo das paradas de sucesso. Janis a apresentaria em todos os festivais dos verões de 1969 e 1970, incluindo o clássico Woodstock, ocasiões em que dizia explicitamente que Kris era seu amigo e o agradecia pelo presente que representava aquela canção em sua carreira. Agora, encarregado de fazer a coisa funcionar por sua própria conta, a apresentação de Kris era um fracasso e não se completou, por que foi interrompida pelas vaias do público, que aumentava em intensidade e violência à medida que o músico tentava prosseguir. Temendo pelo pior, ele desconectou seu violão e saiu do palco, enquanto a banda completava o serviço até um ponto que pudesse parar de forma mais ou menos organizada. O público permaneceu indócil. A pobre moça que subiu ao palco em seguida era Joan Baez, igualmente norte americana, que tentou cantar a canção Let it Be, de John Lennon-Paul McCartney. Pois também foi inexoravelmente vaiada. Acontece que o público daquele ano na Ilha de Wight não era mais o da paz e do amor, que entenderia perfeitamente e curtiria numa boa a baixa qualidade de performance da banda de Kris, absolutamente incomparável com a Kozmic Blues, da legendária branca texana que cantava com voz de deusa negra, a Janis Joplin.




Janis morreria por overdose apenas dois meses depois, quando voltou de uma viagem ao Brasil da ditadura militar. Não sei o que ela veio fazer aqui, pois aquela visita foi totalmente ignorada pela nossa imprensa censurada. De quê os militares tinham medo, também não se sabe, talvez da sensualidade rouca da louca. Ou, quem sabe,  para preservar a juventude brasileira das más influências, pois, naqueles tempos chucros, o que fazia sucesso era o grupo Os Incríveis e sua marcha verde oliva "Eu te amo, meu Brasil, eu te amo", como apoio ideológico à campanha "Brasil, ame-o ou deixe-o".  

Tendo nascido dentro dos navios traficantes de escravos para a América, o rock and roll não poderia ser diferente. Tem a alegria e o encantamento vital de Elvis Presley, sonhado diretamente da Grécia pelo "deus" Eros, o que gera a vida, mas também inclui seu lado contrário, "o lado escuro da lua", apenas para citar o disco do Pink Froyd que está há 40 anos nas paradas de sucesso. Contém basicamente canções tristes, nostálgicas e depressivas. Isso é a energia do outro "deus", o Tanatos, que puxa pra baixo e pra morte. Ora, com o back ground da guerra nuclear contra os soviéticos e a guerra interna em que se transformou a do Vietnam, o final dos anos sessenta só poderiam gerar canções como "Véspera da Destruição",  cantada pelo até então "Menestrel de Cristo", Barry McGuire. Foi sucesso imediato mundial, menos no Brasil, que vivia a época dos festivais da MPB e não estava nem aí com o que acontecia no resto do mundo, isolado pela ditadura militar. Aqui, uma magnífica versão atual em estilo rock clássico,  feita pela banda australiana Screaming Jets, uma agradável confirmação de que o velho rock and roll  nunca vai acabar.  


Para terminar, um depoimento do co-autor original da canção, atualizado para os dias de hoje. O vídeo mostra que Barry não passa de um velhote absolutamente inofensivo. No começo dos setenta, logo após ser a grande estrela do musical "Hair", tornou-se  pregador cristão e foi viver na Nova Zelândia, de onde voltou apenas em 1994, indo parar na Califórnia, onde está até hoje, barrigudo, careca e feliz.  E presumivelmente rico.



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