"El
cóndor pasa el cielo de Perú
y el sol, hijo es, del Perú, Inca.
Volando por sobre los Andes va
amor, un guardián, del pueblo indio.
No hay conquistador capaz de doblar tu valor.
Inca, eres hijo del sol,
de Atahualpa, el valor,
hijo sos, del Dios, Inca."
A música pertence ao folclore peruano do
altiplano dos Andes e foi transmitida anonimamente de geração em geração. Em
1913 um compositor chamado Daniel Alomia
Robles a recolheu e deu-lhe forma definitiva, a qual posteriormente registrou
como sua em 1933. Há dezenas de letras para as diferentes versões gravadas ao
redor do mundo. A mais famosa delas é a de Paul Simon, grande sucesso popular
de 1970. Embora seja um belo poema, não tem nada a ver com condores muito menos
com o Peru. Das várias escritas em
espanhol, a que cantamos no Coral da Eletrosul não é a mais conhecida, embora,
na minha opinião, seja a mais bonita. Porém, a letra que cantamos está
completamente errada, talvez pelo excesso de transcrições ao longo dos anos.
Nela há um verso incompreensível, que suscitou curiosidade entre os coralistas
e nem um espanhol nativo, o Sanches, conseguiu decifrar: "Inca, tecelico
del sol de Ataguar". Não foi possível decifrar por que simplesmente as
palavras "tecelico" e "Ataguar" não existem. Na verdade, a
letra diz "Inca, eres hijo del sol, de Atahualpa, el valor." (Inca,
sois filho do sol, de Atahualpa, o valor). Lembremo-nos que Atahualpa foi um
imperador Inca.
Subir
os Andes peruanos é uma aventura inigualável. Havíamos cruzado dois desertos ao
nível do mar, o Atacama no Chile e o de Nazcar, já no Peru. Depois de vários dias dormindo em pequenos povoados, eis que surge branca e imponente a cidade de Arequipa, que
significa "Aqui eu Fico" na língua Quechua dos Incas. É uma metrópole de
1 milhão de habitantes, primeiro lugar civilizado fora do deserto, em direção
ao norte. Hotéis confortáveis, bons restaurantes, arquitetura espanhola
colonial magnífica. Se soubéssemos o que iríamos enfrentar no caminho, teríamos
deixado lá o carro e viajado de avião. Mas, nossa intenção era voltar pela
Bolívia, via Corumbá. Ainda não sabíamos que não havia estrada, de modo que
zarpamos numa segunda feira às sete da manhã e iniciamos a subida. No início
era asfalto, depois a estrada foi pouco a pouco desaparecendo, até que, lá pelo
meio dia, andávamos a 20 km por hora, prestando atenção na trilha, para não nos perdermos nas montanhas. Conforme a altura passava dos limites de nossa capacidade
respiratória, a fome ia apertando e a cabeça ia ficando zonza. Acabou o chá de
coca e as bolachas. Muito de vez em quando alguma propriedade rural indicava a
presença humana, raros personagens vestidos de negro e vermelho, em roupas
típicas como se vê em gravuras e filmes. Eles quase não falavam espanhol e a
comunicação se fazia impossível, até por que também não tinham o menor
interesse em estabelecer contato. Apareceu um pequeno povoado e uma vendinha aberta. Dentro dela, atrás de um balcão, uma senhora índia e seus vários filhos
nos fazia entender que não havia comida, além dos três ovos de galinha que ela
nos mostrava. Imediatamente pedimos que fossem cozidos, pois eram tempos de
cólera. Foi nossa única refeição até 10 horas da noite. Levamos mais de quinze
horas para percorrer os 300 quilômetros até a cidade de Juliaca, um maravilhoso
oásis no altiplano, perto de Puno, nas margens do Lago Titicaca. Então,
soubemos que para ir até Cuzco
enfrentaríamos 800 km de estradas (?) semelhantes. Ali todos viajam de trem,
mas, por azar, a ferrovia estava interditada por deslizamentos nas montanhas.
Fomos de avião, que fazia a linha Arequipa-Juliaca-Cuzco, de modo
que já o poderíamos ter pego lá em baixo.
Mas, teríamos perdido a aventura de cruzar os pequenos riachos gelados,
de água cristalina, derretida nas geleiras que se desfaziam no primeiro sol da
primavera. Canions incríveis dentro de bolsões de matas verdes, rodeadas por
montanhas de rochas negras. Às vezes cruzávamos pelos vales, olhando as
montanhas acima e, por outras, seguíamos por trilhas encravadas nas pedras,
olhando as profundezas lá embaixo. Chegava a dar um frio na barriga quando se pensava
na possibilidade do carro deslizar para dentro do precipício. No cair da tarde,
vimos pássaros de asas imensas, sobrevoando lentamente no céu. Seriam condores?
Nunca saberei, por que não havia para quem perguntar. Depois nos disseram que não era, por que
seria muito difícil avistar um, quanto mais um bando deles. Por via das dúvidas, cada vez que ouço El
Condor Pasa, sinto vontade de voltar lá.
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