sábado, 4 de fevereiro de 2012

El Condor Pasa




"El cóndor pasa el cielo de Perú

y el sol, hijo es, del Perú, Inca.
Volando por sobre los Andes va
amor, un guardián, del pueblo indio.

No hay conquistador capaz de doblar tu valor.
Inca, eres hijo del sol,
de Atahualpa, el valor,
hijo sos, del Dios, Inca."

A música pertence ao folclore peruano do altiplano dos Andes e foi transmitida anonimamente de geração em geração. Em 1913 um compositor chamado  Daniel Alomia Robles a recolheu e deu-lhe forma definitiva, a qual posteriormente registrou como sua em 1933. Há dezenas de letras para as diferentes versões gravadas ao redor do mundo. A mais famosa delas é a de Paul Simon, grande sucesso popular de 1970. Embora seja um belo poema, não tem nada a ver com condores muito menos com o Peru.  Das várias escritas em espanhol, a que cantamos no Coral da Eletrosul não é a mais conhecida, embora, na minha opinião, seja a mais bonita. Porém, a letra que cantamos está completamente errada, talvez pelo excesso de transcrições ao longo dos anos. Nela há um verso incompreensível, que suscitou curiosidade entre os coralistas e nem um espanhol nativo, o Sanches, conseguiu decifrar: "Inca, tecelico del sol de Ataguar". Não foi possível decifrar por que simplesmente as palavras "tecelico" e "Ataguar" não existem. Na verdade, a letra diz "Inca, eres hijo del sol, de Atahualpa, el valor." (Inca, sois filho do sol, de Atahualpa, o valor). Lembremo-nos que Atahualpa foi um imperador Inca. 

Subir os Andes peruanos é uma aventura inigualável. Havíamos cruzado dois desertos ao nível do mar, o Atacama no Chile e o de Nazcar, já no Peru. Depois de vários dias dormindo em pequenos povoados, eis que surge branca e imponente a cidade de Arequipa, que significa "Aqui eu Fico" na língua Quechua dos Incas. É uma metrópole de 1 milhão de habitantes, primeiro lugar civilizado fora do deserto, em direção ao norte. Hotéis confortáveis, bons restaurantes, arquitetura espanhola colonial magnífica. Se soubéssemos o que iríamos enfrentar no caminho, teríamos deixado lá o carro e viajado de avião. Mas, nossa intenção era voltar pela Bolívia, via Corumbá. Ainda não sabíamos que não havia estrada, de modo que zarpamos numa segunda feira às sete da manhã e iniciamos a subida. No início era asfalto, depois a estrada foi pouco a pouco desaparecendo, até que, lá pelo meio dia, andávamos a 20 km por hora, prestando atenção na trilha, para não nos perdermos nas montanhas. Conforme a altura passava dos limites de nossa capacidade respiratória, a fome ia apertando e a cabeça ia ficando zonza. Acabou o chá de coca e as bolachas. Muito de vez em quando alguma propriedade rural indicava a presença humana, raros personagens vestidos de negro e vermelho, em roupas típicas como se vê em gravuras e filmes. Eles quase não falavam espanhol e a comunicação se fazia impossível, até por que também não tinham o menor interesse em estabelecer contato. Apareceu um pequeno povoado e uma vendinha aberta. Dentro dela, atrás de um balcão, uma senhora índia e seus vários filhos nos fazia entender que não havia comida, além dos três ovos de galinha que ela nos mostrava. Imediatamente pedimos que fossem cozidos, pois eram tempos de cólera. Foi nossa única refeição até 10 horas da noite. Levamos mais de quinze horas para percorrer os 300 quilômetros até a cidade de Juliaca, um maravilhoso oásis no altiplano, perto de Puno, nas margens do Lago Titicaca. Então, soubemos que para ir até  Cuzco enfrentaríamos 800 km de estradas (?) semelhantes. Ali todos viajam de trem, mas, por azar, a ferrovia estava interditada por deslizamentos nas montanhas. Fomos de avião, que fazia a linha Arequipa-Juliaca-Cuzco, de modo que já o poderíamos ter pego lá em baixo.  Mas, teríamos perdido a aventura de cruzar os pequenos riachos gelados, de água cristalina, derretida nas geleiras que se desfaziam no primeiro sol da primavera. Canions incríveis dentro de bolsões de matas verdes, rodeadas por montanhas de rochas negras. Às vezes cruzávamos pelos vales, olhando as montanhas acima e, por outras, seguíamos por trilhas encravadas nas pedras, olhando as profundezas lá embaixo. Chegava a dar um frio na barriga quando se pensava na possibilidade do carro deslizar para dentro do precipício. No cair da tarde, vimos pássaros de asas imensas, sobrevoando lentamente no céu. Seriam condores? Nunca saberei, por que não havia para quem perguntar.  Depois nos disseram que não era, por que seria muito difícil avistar um, quanto mais um bando deles.  Por via das dúvidas, cada vez que ouço El Condor Pasa, sinto vontade de voltar lá.






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