Nos primórdios da apuração
eletrônica das eleições, fomos num grupo de voluntários profissionais de
informática de Florianópolis trabalhar no extremo oeste catarinense. Estávamos
tomando umas cervejinhas na recepção do hotel, quando o porteiro começou a
falar mal da capital.
--- Nós aqui trabalhamos e
produzimos para sustentar vocês!
Os demais colegas apenas riram,
mas, eu, que não levo desaforo para casa, fiz ver ao cidadão que sua concepção
estava equivocada. A capital produz, sim, muito trabalho, só que diferente da
roça onde nosso amigo provavelmente cresceu. No entanto, ele não dava o braço a
torcer.
--- Que nada! A capital é um
bando de vagabundos e políticos sustentados com o nosso suor.
Meus amigos foram se levantando e
se mandando, enquanto eu continuava a peleja com o porteiro do hotel. "Você tem razão em parte, mas, a verdade
é que esses vagabundos e políticos foram mandados para lá por vocês
próprios".
--- O senhor diz assim por que
deve ser um deles.
O pobre homem não sabia que eu
estava ali a serviço da comunidade, num trabalho honroso e gratuíto para
impedir as costumeiras fraudes eleitorais. Além do mais, não tinha nenhuma
responsabilidade com o assunto, uma vez que também sou do interior. Lembrei-me
da nossa grande alegria em Maringá, quando a nossa capital, Curitiba, aparecia
na mídia nacional como exemplo de centro urbano. Mais tarde, senti na própria
pele a discriminação por falar e apresentar uma aparência diferente, quando os
arrogantes curitibanos nos chamavam a todos de pés vermelhos, apelido que hoje em dia é um elogio. Mas,
nunca nos passou pela cabeça deixar de amar a nossa capital. Em Santa Catarina
ocorre o contrário, diferentemente do resto do país. E não é só um preconceito
das classes humildes. Visitei uma grande empresa de software de Joinville, o
município mais rico do estado, buscando
opções para comprar um produto que atendesse as especificações da licitação que
eu coordenava, valor aproximado de dez milhões de reais. Quando fui apresentado
ao diretor da empresa, ele saiu-se com esta:
--- Quer dizer, então, que
largastes a vagabundagem e as gatas das praias para visitar os que trabalham?
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