domingo, 5 de fevereiro de 2012

Os olhos azuis de Van Gogh





Peter O'toole estrelava o elenco de astros do filme "A Noite dos Generais", obra prima do cinema britânico, onde um general nazista está no comando da ocupação de Paris.  Esse comandante já havia destruído Varsóvia e tinha sérios problemas psicológicos. Costumava levar prostitutas de rua  para hotéis baratos, onde as assassinava. Na mesma linha psicótica, entrava em transe diante de certos quadros. Apesar das forças alemãs terem fechado todos os museus da cidade, ele visitava o depósito onde estavam guardadas as obras de arte. Fazia isso durante as madrugadas, quando podia apreciar à vontade os quadros que escolhia. Uma das cenas mais impressionantes do filme é quando o general confronta seus malucos olhos azuis contra os de Van Gogh, na tela do auto-retrato pintado em Arles, sul da França, onde Van Gogh viveu alguns anos.


No ano 2000 eu fiz um roteiro de trinta dias para seguir os passos de Van Gogh de Amsterdan até o sul da França, culminando com seu túmulo nos arredores de Paris. Nos museus da Holanda estão guardadas a maioria de  suas obras, no entanto, sua história e principais quadros estão na França. Lá visitei as cidades por onde ele passou, cujo epicentro é Arles, onde  dezenas de artistas do mundo todo hoje procuram reproduzir suas obras máximas, que pintou nos bares e cabarés da cidade ou às margens do Rio Reno.


"Noite Estrelada à Beira do Rhone", uma das mais belas obras de Van Gogh


Dito assim,  parece que a vida de Van Gogh foi uma beleza. Pois não foi, não!   Morreu aos trinta e três anos de idade sem nunca ter vendido um só quadro. Desde que saiu da roça, na Holanda, viveu sob a dependência econômica de seu irmão,  que era negociante de arte em Paris. Esteve várias vezes internado como deficiente mental. Hoje é considerado um dos maiores gênios da humanidade e seus quadros valem milhões de dólares, inclusive um,  "O Escolar",  que temos a sorte de contar no acervo do MASP, trazido pelo mago italiano Pietro Maria Bardi, que veio da Europa destruída pela guerra para dirigir o Museu que Assis Chateaubriand mandou erguer, graças à sua extrema generosidade e visão futurista.

A mais bela homenagem a Van  Gogh que eu assisti não foi na França nem na Holanda. Foi na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, quando um artista apresentou uma exposição temática, muito bem decorada, onde mostrava  vários quadros inspirados numa  suposta festa de casamento de Vincent Van Gogh, algo que realmente nunca aconteceu.  Consta que ele nunca teve sequer namorada e suas poucas experiências sexuais deram-se com prostitutas. Mas, ao contrário do outro maluco, o do filme, Van Gogh nunca matou ninguém, a não ser a si mesmo, quando estava em tratamento com um médico francês, Dr. Gachet, que o acolheu em sua casa nos arredores de Paris. Van Gogh está enterrado ali mesmo, no meio de um maravilhoso trigal, que pintou tantas vezes.












Um comentário:

  1. "O vento que sopra na cabeça de Vincent faz suas telas dançarem e a natureza rodopiar"
    Dizia para o irmão Theo, as estrelas me fazem sonhar. Esse pintor meio maluco prendia velas acesas ao chapéu para pintar suas noites.
    Isso é ser iluminado!
    Vera

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