quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Jornada






Durante os dias cinzentos do inverno,
as chuvas encharcam os quintais 
e povoam de preto os terminais de ônibus, 
ruas e praças do centro da cidade, 
num imenso festival
de guarda-chuvas apressados.  

Enquanto isso,
se prepara o tempo da nova estação.
Com a chegada da luminosidade no ar  
e os brotos nos arvoredos,
teremos os sinais claros da presença
dos tempos renovados.

Quando a natureza desabrochar de vez nos cuidados das corujas 
e dos quero-queros,
que se fecundam e chocam
seus futuros filhotes,
virá o tempo da nova estação.

É a renovação periódica do compromisso 
que fazem os lírios e jasmins 
de inundarem o ar com seus perfumes, delicadamente acompanhados 
pela força da grama recém revigorada
e dos frutos novos no bananal,
que se apontam escandalosamente
para o ar, a seduzir rosas e gerânios. 

A pele macia dos novos frutos
destaca-se suavemente, 
quando o butiazeiro apresenta-se
ao mundo com três lindos cachos,  coquinhos ainda verdes, anunciando o néctar, 
a ser degustado com vagar
e docemente pelas abelhas,
ao longo deste verão.

É nesse tempo bom que buscamos 
a leitura de um bom romance, 
confortavelmente instalados sob o olhar compreensivo do velho ipê, cujas folhas acabaram de ceder lugar às flores  em amarelo ouro,  espalhando-se
pela grama verde e formando tapete
de fina aquarela.

Bustos, costas e coxas sensuais
aos poucos refletirão as cores
do bronze, entre gotas salgadas
que secarão ao sol, estendidas
na areia, entre um e outro mergulho
nas ondas verdes recobertas
por espumas brancas que se sucedem.

Vamos à praia como um bando
de crianças,  pulmões sadios 
capturando o ar limpo e fresco da manhã, distinguindo cheiros e identificando
cada procedência,
de acordo com as mesmas regras 
que formam dunas, restingas e mangues desde tempos imemoriais. 
Veremos casais de pássaros
se namorando, rodopiando alegremente  nos postes de luz, de onde saltam
em duplas para as copas das árvores.

Subiremos montanhas e descansaremos,
admirando a ilha verde ao longe,
no ponto onde o céu já não se distingue 
do marinho azul.


Ilha do Campeche, vista do alto do Morro do Lampião
(que tem esse nome por que aqui se colocavam lampiões à gás, 
para orientar o pouso dos aviões da Air France na década de 1920, 
entre eles o avião de Antoine de Saint Exupery - O Pequeno Príncipe-) 


Luau na Praia do Campeche



Quando vier o por do sol, nossos olhares acompanharão a trajetória do astro  descendo para trás da serra, pintando de vermelho o horizonte que vai, aos poucos, transformando o céu em novo azul profundo, até mesclar-se de vez com a noite que acabou de chegar.






2 comentários: